Entrevistando Jonny Armani

Jonny Armani, tatuador no Armani Tattoopiercing e apresentador do Visceral Art, é bastante conhecido no meio underground de Belo Horizonte. Tendo em vista seu conhecimento e anos de experiência como tatuador, aproveitamos para bater um papo sobre Body Modification, com esse que é um dos melhores tatuadores da nossa cidade.

Para maiores informações acesse:

www.facebook.com/armanitattoopiercing

www.facebook.com/visceralartbrasil

 

Antônio Fernandes, Cecília Marinho e Kamila Faustino

Um bate-papo rápido sobre alargadores com Carlos França

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Carlos França, Estudante de Publicidade.

Cecília: Boa noite Carlos, então como foi a primeira vez que você furou a orelha?

Carlos: Então, a primeira vez eu estava com 18 para 19 anos, só que eu ainda morava com meus pais, o que não casou uma impressão muito boa e eu acabei tirando, quando me mudei para BH e comecei a morar sozinho, eu furei de uma vez e desde então não deixei de usar mais.

Cecília: O que te motivou a usar o alargador?

Carlos: Eu sempre gostei de alargadores, sempre gostei de Body Modification e de tatuagem, só que por causa da minha família que é do interior e bem conservadora, eu não tive muito acesso, então quando me mudei e comecei a namorar, minha ex-namorada na verdade ela tinha alargadores e como já gostava acabei colocando também.

Cecília: E com relação ao preconceito, como você disse já sofreu na família pelo fato de serem conservadores, mas e no trabalho ou na rua?

Carlos: A princípio eu trabalhei com telemarketing e eles não observam muito esses detalhes, mas depois quando comecei a trabalhar no hospital onde estou atualmente teve um pouco e foi meio complicado conseguir o serviço, mas houve uma adaptação, eu tenho que tirar os alargadores lá. Na rua as pessoas olham bastante, já chegaram me perguntam bastante se eu não tenho medo de me arrepender, mas hoje as pessoas próximas já estão bem acostumadas.

Cecília: O uso de alargadores tem algum significado para você?

Carlos: Não, para mim é puramente estético.

Cecília: E hoje em meio a sua família, eles já se acostumaram com os alargadores ou ainda existe algum conservadorismo?

Carlos: Sim e não, eles já acostumaram com o fato de eu ter alargadores, não reclamam tanto mais ou pedem para tirar, mas por outro lado eles deixam claro que não gostam, nós estabelecemos um acordo, sempre que eles estão perto ou quando eu os visito não utilizo o alargador aberto por questão de respeito.

Cecília: Uma curiosidade qual o tamanho do seu alargador?

Carlos: Esse tem 40mm.

Cecília Marinho

Batendo de frente com o preconceito

Como vivemos num mundo em que a competência não se restringe a conhecimentos, mas inclui apresentação, atitudes e comportamentos, o preconceito surge como uma barreira na vida dos adeptos do “Body Mod”, tornando-se um dos principais obstáculos a ser rompido pelos “desbravadores” dessa nova manifestação cultural.

Binha Cas, membro do Uai Fly Suspension.

Binha Cas, membro do Uai Fly Suspension.

“Sempre sofri e ainda sofro preconceito e acho que isso nunca vai acabar porque o que é diferente sempre choca e as pessoas costumam repudiar o que é diferente, sofro preconceito até com o estilo do meu cabelo, mas levo isso na boa, acho que cada um deve fazer o que quiser desde que não prejudique os outros.  Seu corpo é seu templo, faça dele o que bem quiser!”, diz Binha Cas, que iniciou sua vida no body modification muito jovem, Minha primeira modificação foi furar a orelha, na época tinha uns 10 anos, sempre gostei de tatuagens, piercings, adornos indígenas, etc…, explica.

O preconceito na maioria das vezes parte dos próprios familiares, como aconteceu com Arthur Gomes, “Até dentro de casa já sofri preconceito. As pessoas não aceitam que uma pessoa possa querer mudar sua aparência pelo gosto de ser distinto, vivemos em um país demasiado!”. No âmbito familiar o preconceito se apresenta, justificado pela preocupação com o fato do mercado de trabalho ser, geralmente, discriminativo contra adeptos do “Body Mod”, ou, muitas vezes, buscam justificar suas condutas preconceituosas baseando-se em dogmas do conservadorismo religioso, demonstrando uma visão extremamente etnocêntrica sobre o assunto.

Arthur Gomes, body piercing no  Beagá Ink Tattoo.

Arthur Gomes, body piercing no Beagá Ink Tattoo.

A divulgação da Body Modification pode ser uma grande aliada para a quebra de barreiras preconceituosas, segundo Arthur Gomes, “A exposição da cultura da Body Mod é algo bom, pois assim o tabu é quebrado e as pessoas começam a ver a modificação corporal como arte, é assim que ela tem que ser vista”.  Por outro lado, pode ser algo que venha a contribuir para o aumento do preconceito, como diz Binha Cas, “A divulgação da ‘body mod’ no meu ponto de vista tem dois lados, o bom e o ruim. O bom é que com ela podemos explicar o que fazemos e o porquê fazemos, abrindo a cabeça das pessoas para entender um pouco mais nosso mundo, mas por outro lado podemos alcançar pessoas que não se preocupam em entender, ou conhecer um pouco mais sobre o assunto, passam a ver todos da ‘body mod’ como aberrações, por isso acho que a divulgação pode até aumentar o preconceito”.

Por fim, é necessário relativizar. O Antropólogo Everardo Rocha, em seu livro “O que é Etnocentrismo”, 1984, cita a relativização como uma das mais importantes ideias para se entender o próximo. Portanto, para romper com o preconceito, basta sabermos entender e utilizar o conceito de relativização no nosso dia-a-dia.

“Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando. Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece: estamos relativizando. Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença”. (“O que é Etnocentrismo”, Everardo Rocha, Ed. Brasiliense, 1984)

Guilherme Caldeira

Elza, a artista das ruas

Bastante conhecida entre os frequentadores do Parque Municipal de Belo Horizonte, Margarete Maria da Silva, ou simplesmente, “Elza”, é uma das grandes representantes da modificação corporal em Belo Horizonte, sendo a primeira Body Artist da cidade. Para conhecer um pouco mais sobre a história dessa que é uma das principais personagens de nossa cidade, gravamos uma breve entrevista que você pode conferir no vídeo a seguir:

 

Oliver Bredariol e Tiago Aredes

A arte da Modificação Corporal

fonte: morguefile.com

Como toda arte milenar, as origens do body modification são incertas, remetendo a sociedades antigas como as tribais, espalhadas ao redor do mundo. Os povos da Papua em Nova Guiné, por exemplo, já andavam furando seus narizes muito antes do movimento punk da década de 1970 popularizar a prática. A grande diferença entre os nativos da selva de pedra e os habitantes da metade oriental da ilha da Nova Guiné é o objetivo ao modificar seu corpo: em vez de chocar, seus adornos corporais servem para ligá-los à virtude dos animais do qual o material é proveniente. Já entre os esquimós, um piercing no lábio ou na língua não possui outra conotação senão indicar que aquele indivíduo já não é mais uma criança e está apto a caçar.

Mas não é preciso ir tão longe no globo para encontrar exemplos de modificação corporal radicais. Os chefes kayapós por exemplo costumam usar enormes discos em seus lábios inferiores, conhecidos na cultura kayapó como “botoques”, sua função é exatamente a mesma que a de um alargador. Um exemplo de adeptos famosos dos alargadores de orelha foram os incas: seus alargadores eram inseridos somente naqueles que possuíam grande prestígio social. A origem dos piercings e alargadores é tão antiga e incerta que até mesmo os faraós utilizavam piercing no umbigo para denotar sua posição social, o adorno era exclusividade da família real.

Enquanto isso, no oriente, um dos povos mais conhecidos pela dermopigmentação são os japoneses, que a praticam desde o século V antes de Cristo. Apesar disso, o termo “tatuagem” origina-se do francês “tatouage” que por sua vez tem origem na palavra “tattow”, originária do Taiti, nada mais é do que uma onomatopeia designada para o som produzido instrumento de madeira e concha ao marcar a pele. O costume de fazer do corpo uma obra de arte, seja motivado pela religião, seja motivado por ideologias, ou simplesmente por pura vaidade, tem origens incertas espalhadas pelo mundo e pela história.

O body modification, apesar de comum e mais antigo do que se imagina, é uma arte ainda mal vista e barrada por tabus sociais, repletos de preconceitos e cerceados por más interpretações, que se encontram no ponto certo para serem quebradas.

Louie Fernandes